Os moradores da Região Metropolitana do Distrito Federal começaram a semana gastando mais com as passagens de ônibus. O aumento abrange as linhas semiurbanas e, para algumas delas, chega a 7%. Apreensão maior para os trabalhadores, uma vez que, segundo entidades do comércio, o encarecimento pode frear as contratações de funcionários que moram nas cidades atingidas.
A medida foi autorizada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e publicada na última sexta-feira. Segundo a ANTT, o aumento foi permitido com base nas condições estabelecidas no contrato das empresas e justificado por gastos como combustível e manutenção.
Apesar de legal, a mudança desagradou a muitos passageiros, como o vigilante Nelton dos Santos, 34 anos. “O nosso transporte é péssimo. Os ônibus quebram sempre, ou é o pneu que esquenta e não tem como continuar a viagem”, reclama.
Para somar aos problemas, ele diz que a quantidade de coletivos circulando é menor que a necessária e, por isso, todos os dias, faz as viagens em pé. E olha que ele sai cedo do município de Planaltina de Goiás e volta depois das 22h.
O vigilante sabia que o preço da passagem aumentaria R$ 0,35, e por isso já levou algumas moedas a mais para passar da roleta e seguir viagem para casa. Desde ontem, a passagem dele subiu de R$ 6,45 para R$ 6,80. Apesar do aumento da arrecadação, segundo Nelton, não tem havido muitas mudanças na estrutura dos carros.
O morador de Planaltina (GO) vive há 36 anos no município, que fica a cerca de 60 km de Brasília, e afirma que só ouviu promessas, mas, na prática, viu poucas melhoras. “Não tenho esperança de que isso melhore. Vamos continuar passando pelos mesmos problemas”, desabafa o vigilante.
Surpresa
André Tomás, 20 anos, não estava preparado para o aumento e foi pego de surpresa ao observar o letreiro do ônibus mudando o valor da passagem. “Eu estava conversando com uma mulher na fila e, quando vi, o valor tinha mudado. Sorte que trouxe mais dinheiro”, afirma o produtor de eventos, que desenbolsou R$ 0,40 a mais para sair do Plano Piloto e ir para Luziânia. Nesse trecho, a passagem aumentou de R$ 6,05 para R$ 6,45.
Também houve mudança de valor nos trajetos de Luziânia para Taguatinga (de R$ 6,85 para R$ 7,20) e para o Gama (de R$ 4,50 para R$ 4,80). O município goiano fica a cerca de 60 km do centro da capital federal. André pensa da mesma forma que Nelton, de Planaltina de Goiás: a qualidade apresentada pelo transporte não justifica um aumento assim.
Custo alto preocupa trabalhador
Andreia Garcia, 42, é cuidadora de crianças e está preocupada com a forma que a patroa encarará o aumento no vale transporte. Como ela mora em Águas Lindas (GO), seus empregadores terão de desembolsar R$ 6,70 – antes eram R$ 6,35. Sem contar a passagem da Rodoviária do Plano Piloto para o Lago Norte. “Eu não conseguiria tirar o dinheiro da passagem do salário. Ficaria muito caro”, diz.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), Edson de Castro, assegura que esse reajuste pode ter uma repercussão negativa no meio empresarial. “Quando há aumentos assim, muitos comerciantes tendem a não contratar pessoas que sejam do Entorno, mesmo que boas, pois ficará ainda mais caro”, avalia.
Segundo o estudo do IBGE, Arranjos Populacionais e Concentrações Urbanas do Brasil, quase 200 mil pessoas se deslocam diariamente da Região Metropolitana para o DF a fim de trabalhar. Edson de Castro destaca que os que estão desempregados ou retiram o dinheiro da passagem do próprio bolso passarão por muitas dificuldades, pois não há integração entre os sistemas de transporte.
No DF, o último aumento foi anunciado no fim de 2016 e entrou em vigor no primeiro dia de 2017. O acréscimo foi de 25%.
Fonte: Jornal de Brasília