Um áudio obtido pela Polícia Federal (PF) expõe a atuação de um agente da corporação acusado de vazar detalhes sobre a segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o período de transição de governo. O caso integra as investigações sobre as ações golpistas supostamente articuladas durante o governo de Jair Bolsonaro.
O vazamento ocorreu em 13 de novembro de 2022, quando o agente Wladmir Matos Soares, integrante da equipe externa de segurança responsável pelo entorno do hotel onde Lula estava hospedado, repassou informações sigilosas. Soares está preso desde novembro do ano passado, após ser identificado como parte do esquema investigado.
O episódio aconteceu um dia após a diplomação de Lula como presidente eleito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os atentados contra a sede da PF em Brasília, eventos que intensificaram as preocupações com a segurança do então presidente eleito.
Detalhes do áudio
Em uma das conversas, o agente Wladmir enviou um áudio ao militar do Exército Sergio Cordeiro, que atuava na Presidência da República. No áudio, Soares relata que indivíduos não identificados adentraram o hotel onde Lula estava hospedado.
“Estou aqui na coordenação desse evento de posse. Vim para as fixas [posições] dos hotéis. O gerente ligou e disse que esses caras entraram. A reserva está no nome de Misael. Quatro homens entraram sem se identificar, alegando ser da Polícia Federal. Eles saíram sem fornecer informações, e o hotel nos acionou. Fizemos um levantamento prévio, mas não conseguimos confirmar se são do GSI [Gabinete de Segurança Institucional], se estão ligados ao nosso governo atual ou se trabalham para outro grupo. Eles afirmam estar em uma missão secreta e não puderam se identificar. Estou por aqui, qualquer coisa, me avise”, disse o agente.
Posteriormente, Soares informou a Cordeiro que os indivíduos em questão pertenciam ao Comando de Operações Táticas (COT), grupo de elite da PF. Segundo o diálogo, o COT foi acionado para reforçar a segurança do presidente eleito após os atentados em Brasília.
“Fala, Cordeiro. O Misael é do GSI, sim. Ele está à disposição do candidato Luiz Inácio. Como houve aquele incidente no prédio da Polícia Federal ontem, eles acionaram o COT. Uma equipe do COT foi alocada próximo ao hotel Meliá, onde Lula estava, e outra foi hospedada no Windsor. Isso foi acertado. Só para você ter essa informação. Estamos na torcida para que essa situação se resolva logo. Não dá para continuar assim”, completou o agente.
Contexto das investigações
As informações sobre o monitoramento de Lula vieram à tona em novembro do ano passado, quando a PF indiciou Jair Bolsonaro e mais 39 pessoas por suposta participação em uma trama golpista. Os áudios divulgados nesta semana fazem parte da investigação, após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizar a quebra do sigilo da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra os acusados de tentativa de golpe de Estado.
O caso continua sob investigação, com a PF analisando novos detalhes que possam esclarecer o alcance e os envolvidos no suposto plano golpista.
Da Redação