A Controladoria-Geral do Distrito Federal abrirá um processo administrativo pelo qual poderá cobrar das construtoras Andrade Gutierrez e Via Engenharia o prejuízo de uma conta de água milionária do Mané Garrincha – em maio de 2017, o governo teve de pagar uma fatura de R$ 1,1 milhão.
A decisão foi tomada após julgamento na última quarta-feira (21). Na avaliação do órgão, há “fortes indícios” de que a conta milionária tenha sido causada por uma falha de execução da obra tocada pelas construtoras Andrade Gutierrez e Via Engenharia: não deveria existir a ligação entre uma tubulação que recebe água da Caesb e os reservatórios que armazenam água da chuva.
Construído a um custo estimado entre R$ 1,4 bilhão e R$ 1,9 bilhão, o Mané Garrincha deixou aos cofres públicos um legado de baixa rentabilidade, alto custo de operação e um rastro de corrupçãoevidenciado pelas delações da Odebrecht.
“Foi a existência de uma ligação indevida, que não estava no projeto, que permitiu que houvesse toda a perda de água”, disse ao G1 o controlador-geral do Distrito Federal, Henrique Ziller. “O próximo passo é instaurar um procedimento de responsabilização do consórcio (de construtoras), no qual ele terá possibilidade de se defender.”
“Essa ligação indevida foi o que permitiu que houvesse toda a perda de água.”
O motivo da criação de uma ligação de água que não estava prevista no projeto será apurado neste novo processo – uma tomada de contas especial. A previsão de Ziller é de que uma decisão seja tomada de 60 a 90 dias.
Inicialmente, o valor do prejuízo era de R$ 2,26 milhões, mas, como a água não chegou a cair na rede de esgoto, a Caesb revisou a conta para baixo. Com isso, a fatura caiu pela metade, fechada em R$ 1,1 milhão.
A Andrade Gutierrez, líder do consórcio que entregou a arena em 2013, informou ao G1 que não comentará o assunto.
O tamanho do desperdício
O valor milionário correspondeu, segundo a fatura, a um gasto de 94,2 milhões de litros nos 31 dias de maio. Na época, a Caesb informou ao G1que o hidrômetro do Estádio Nacional de Brasília estava funcionando normalmente no período – ou seja, a água realmente passou pelos canos.
O volume de água consumido seria suficiente para abastecer por um mês toda a população da Candangolândia, região do DF com cerca de 20 mil habitantes. Foram 3 milhões de litros de água por dia, ou 2.110 litros por minuto. A vazão é equivalente a 140 chuveiros domésticos de potência média.
Sucessão de erros
Em julho de 2017, uma comissão criada pelo governo do Distrito Federal apontou que a falha se devia a uma “sucessão de erros”, sendo a primeira delas a existência de uma estrutura que não deveria estar no local: uma ligação entre a tubulação que recebe água da Caesb e os reservatórios que armazenam água da chuva.
O secretário-chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio, afirmou que essa interligação com o “circuito interno” – que pega água da chuva e leva para irrigar o gramado – não estava sequer na planta original da arena.
Fonte: G1 DF