Os fortes temporais no Rio de Janeiro resultaram em 12 óbitos e deixaram mais de 9 mil pessoas desalojadas, 300 desabrigadas, com ruas inundadas e residências destruídas. Esta tragédia trouxe à tona a discussão sobre o conceito de racismo ambiental, especialmente após declarações de ministros do governo diante da crise enfrentada pela população do estado.
“Quando se afirma que favelas e periferias são quinze vezes mais impactadas do que outros bairros, não é natural que em alguns municípios, bairros, periferias e favelas sofram com consequências mais graves da chuva do que outros”, afirmou a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, em uma declaração publicada em suas redes sociais.
“Isso ocorre porque uma parte da cidade, do estado, não possui as mesmas condições de moradia, saneamento e estrutura urbana que outras. Além disso, não é natural que esses lugares tenham a maioria de sua população composta por pessoas negras. Isso faz parte do que chamamos de racismo ambiental e seus efeitos nas grandes cidades”, completou a ministra.
Entendendo o Racismo Ambiental: O termo “racismo ambiental,” presente desde a década de 1980, é utilizado para ilustrar como a degradação ambiental e catástrofes como enchentes, secas e contaminação impactam de forma mais severa as populações das periferias.
Diante do desastre na capital fluminense e região metropolitana, especialistas e autoridades têm empregado essa expressão para explicar o impacto desigual das fortes chuvas sobre a população.
“O conceito de racismo ambiental é objeto de estudos científicos há décadas. Ele busca explicar como as catástrofes ambientais e as mudanças climáticas afetam de forma mais severa grupos sociais politicamente e economicamente discriminados, que, por esse motivo, são forçados a viver em condições de risco”, afirmou o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, também em postagem nas redes sociais.
“Não significa dizer que apenas pessoas destes grupos são afetadas pelos eventos climáticos, mas que as pessoas pertencentes a esses grupos são mais afetadas, por razões sociais, pelos eventos ambientais”, acrescentou.
Manifestações do Racismo Ambiental: Estudiosos e ativistas indicam que o racismo ambiental está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, mesmo que muitas não percebam.
A falta de saneamento básico, coleta de lixo, rede de esgoto, acesso à água potável e instalação de aterros sanitários em comunidades de baixa renda, predominantemente habitadas por pessoas negras e pardas, são algumas das manifestações de racismo ambiental.
Thales Vieira, sociólogo e antropólogo, co-diretor-executivo do Observatório da Branquitude, explica que outra evidência do racismo ambiental é a exclusão da parcela pobre das políticas públicas.
“Por isso que a gente fala que o racismo ambiental é produto de uma intenção efetiva de não produção de políticas para essas populações, de não participação dessas populações nas decisões que são tratadas de políticas que efetivamente são feitas ou não são feitas. Essa também é uma forma de fazer política, a omissão é uma forma também de fazer política”, disse Vieira. Para ele, deixar de produzir políticas públicas em benefício de parte da população é, na prática, “deixá-la para morrer”.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva, destaca a necessidade de modernização na compreensão e atendimento da população mais carente. “A política pública precisa integrar novas linguagens, capazes de dar nome às demandas de forma objetiva, e o racismo ambiental é uma das realidades que precisam ser enfrentadas. Eventos climáticos extremos afetam toda a população, mas é um fato que pessoas pretas, mulheres, crianças, jovens e idosos são duramente mais afetados”.
Da Redação